quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Espinhos

espinhos
rasgaram minha pele
cortaram o meu rosto
espetaram os meus dedos

querer andar descalça na caatinga
esquecer o que a mãe ensinou
largar as alpercatas no alpendre
queimar o pé na pedra quente

espinhos
eu já nem mais os vejo
arranquei como pude
e ainda doem os dedos

botar os pés na terra vermelha
caminhar onde o barro rachou
colecionar besouros cascudos
catar umbu ainda verde

espinhos
mandacaru favela
macambira facheiro
faço deles meus brinquedos

subir bem lá no alto do lajedo
desobedecer o que o pai ordenou
gritar aos quatro cantos meus desejos
deixar se ver por toda gente

espinhos
se enroscam em minha volta
fazem sangrar meu corpo
É o que dá viver sem medo


sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Fevereiro

Era fevereiro
E você não viu
Meu olhar urgente
Meu corpo febril
Meu cheiro de cio

Queria que o mês
se estendesse eternamente
Que o carnaval não chegasse
o calor não passasse

Mas o carnaval chegou
E foi tão sóbrio e casto
E por isso infernal
Preferia a quaresma
Com samba dominical

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

eu preciso de tuas palavras

fala

me escreve

vêm
sussurra em meu ouvido

preciso