domingo, 24 de novembro de 2013

eu sinto tanto,
sinto muito.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Carnac (fragmentos)

1

Mar à beira do nada,
Que se mistura ao nada,

Para melhor saber o céu,
As praias, os rochedos,

Para melhor os receber.


2

Algum dia brincaremos,
Por uma hora que seja,
Nada mais que alguns minutos,
Oceano solene,

Sem que tenhas tu esse ar
De outra coisa te ocupar?


3

Sabes de mais que todos te preferem,
Que mesmo aqueles que te deixaram

Nos trigos te reencontram,
Na erva te procuram,
Na pedra te escutam,
Sem que jamais consigam agarrar-te.


4

Tem qualquer coisa a ver
Com a noção de Deus,

Água que já não és água,
Poder desprovido de mãos e de instrumentos,

Peso sem emprego
Para quem o tempo não existe.


5

Sejamos justos: sem ti
De que me servia o espaço
E as rochas de que serviam?


6

Não temos margens, na verdade,
Nem tu nem eu.


7

Ouve bem o que faz
A pólvora explodindo.

Ouve bem o que faz
O frágil violino.


8

Sei bem que há outros mares,
Mar do pescador,
Mar dos navegadores,
Mar dos marinheiros e guerreiros,
Mar dos que querem morrer no mar.

Não sou um dicionário,
Falo só de nós dois

E quando digo o mar
É sempre o de Carnac.


9

As mesmas terras sempre
A teres de acariciar.

Jamais um corpo novo
Que possas ensaiar.


10

As profundezas, que procuramos,
Serão as tuas?

As nossas têm poder de chama.


11

Demasiado largo
Para ser cavalgado.

Demasiado largo
Para ser estreitado.

E flácido.


12

Se acaso acreditas no valor dos sons
Deves sentir-te arrepiar
Só de ouvir este nome de mar.


13

Tu vais e vens
Mas dentro de limites

Fixados por uma lei
Que não chega a ser tua.

Nós temos em comum
A experiência do muro.


Guillevic
Carnac,
fragmentos (1961)

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Uma casa branca na praia

Manhã em um lugar lindo. Uma praia vazia, a natureza exuberante. Céu azul, mar verdinho, areia, mata. Uma casa branca em frente ao mar, tão iluminada. Era onde estávamos. 

Eu, deitada encolhida no sofá, no teu colo, morrendo de sono. Quase dormindo, mal consigo manter os olhos abertos, mas nem é preciso, prefiro fechá-los e só te sentir. Meu braço sobre o teu. Tudo é terno.

No deck de madeira observo a bela paisagem. Ele chega e segura minha mão. Você surge e segura a outra. Saímos os três pela areia da praia, felicidade pura. Luz.

No meu quarto tinha uma carta pregada na parede ao lado da cama. Não assinada, era tua. As palavras estavam quase apagadas e eu não consegui ler. Era uma carta de adeus?

De noite, deitados no chão da varanda, ele me mostrou as constelações.  Eu não enxergava bem as estrelas, pois estava sem óculos. O melhor era a brisa sobre o corpo.


Sonho que me fez acordar nesta manhã com cheiro de maresia e desejo de brisa.