Me expressar
Não temer o que os outros vão pensar
Viver com autenticidade
No sono o espírito se liberta
Que o ano novo seja realmente novo
Que eu não tema os meus desejos
Que eu me revele inteira e franca.
Quero uma verdade explícita
Mas será que esta é só mais uma fantasia?
Agora substituo desejo
por significado.
Invés de dizer eu desejo você, eu digo,
Há um significado entre nós.
(...)
Megan Fernandes
Avesso
E torna a acontecer em nós um tempo não havido, o muito-e-pouco amor que não tivemos, paixão que nos abocanhou de assalto como serpente alerta para o bote. Tantas coisas pensadas, o ensaio de dizê-las, a tentativa de dizer o que não foi dito. A dor da vida que por ser vivida é também prazer e é delícia, meu amor se amolda nessa falsa paz de pedras onde firo e sou ferida.
Força é lamber o sangue derramado nessas mesmas pedras, falso rio, em que visceralmente - melhor: uteralmente domo, sou domada.
Olga Savary
Sonhei contigo. De novo. Era tão leve, nítido.
Estávamos na cozinha da casa da minha avó. E todos os outros tinhas saído de casa.
Eu te olhava, ríamos. Eu levantava e ia decidida até você, que estava sentado na janela. Segurei o teu rosto (como você fazia) e aí você levantou e me abraçou. Eu correspondi firme. O abraço virou uma dança. Nos balançando colados. Eu fechei os olhos, você me conduzia. Eu não lembro qual a música (e se havia).
Saudade já saudade
antes saudade
amor de te não ver
porque pressinto
se sinto que te ter
é não saber
distância já agora
e que não minto
Amor de que me calo
e te não digo
amor já saudade
já instinto
Maria Teresa Horta
Extrema, toco-te o rosto. De ti me vem
À ponta dos meus dedos o ouro da volúpia
E o encantado glabro das avencas. De ti me vem
A noite tingida de matizes, flutuante
De mitos de água. Inaudita.
Extrema, toco-te a boca como quem precisa
Sustentar o fogo para a própria vida.
E úmido de cio, de inocência,
É à saudade de mim que me condenas.
Extrema, inomeada, toco-te a mim.
Antes, tão memória. E tão jovem agora.
Hilda Hilst